terça-feira, 6 de julho de 2010

1ª crônica descontrolada


Vaga lembrança da meia noite

A lua ainda pairava no céu estrelado, quando me acordei, mesmo que sonolento. Levantei-me da minha cama de molas tamanho duplo e me dirigi à cozinha. Abri a geladeira, que recalcitrava em me fazer deixá-la aberta, enquanto pensava. Tirei o leite, e bebi gole á gole sem parar. Entretanto, quando eu estava voltando ao meu quarto, minha atenção se voltou para o lado de fora. Na cozinha, havia uma porta dos fundos, que tinha uma parte transparente, que permitia uma visão magnífica do maior lago de Nashville. Mas não foi o lago que chamou minha atenção, e sim, o que estava próximo á ele. Havia uma menina aproximadamente da minha idade, 13 anos, sentada na sua margem. Ela cantarolava perfeitamente uma canção do U2, que me fez lembrar da minha mãe, falecida.

Não resisti à tentação de sair para falar com ela. A temperatura do lado de fora estava baixa. O ar estava muito úmido, mas mesmo assim, ela estava com um tomara que caia verde esmeralda e um short jeans muito curto. Ela era ruiva de olhos bem verdes, que até pareciam lentes de contato. Ao me ver pareceu levar um susto, como se eu fosse um monstro que a perseguia a muito tempo.

-Oi. –Falei. –Quem é você?

Ela não respondeu. Então prossegui:

-O que você está fazendo aqui, sozinha, á esta hora da noite?

-Nada! –Disse ela friamente. –Só pensando.

-Porque você não pensa na sua casa então? Lá deve ser bem mais confortável e quente do que aqui!

-Eu não tenho casa! –Disse ela mais uma vez friamente.

-Então como você vive? Do quê você vive?

-Vivo de favores, digamos assim. –Disse ela pensando bem antes de responder. –As pessoas me dão algo que preciso, e eu, bem, digamos que retribuo o favor a eles.

-Hm... Qual é o seu nome?

-Não tenho nome. –Disse ela indiferente. –Nunca tive, mas não vejo o motivo de se ter nome. Não se serve para nada!

-Bem depende do ponto de vista! –Falei. –Se você for...

-Não serve ok? –Disse ela. –Nunca precisei de nome para sobreviver. Ás vezes eles me dão nomes, mas não gosto deles.

-Quem lhe dá nomes?-Perguntei curioso. Ela era tão misteriosa e sinistra. Confesso que por um minuto achei que estava conversando com um fantasma. Mas por algum motivo, percebi que ela era muito triste e que fantasma algum conseguiria representar um aspecto tão humano como o daqueles tristes olhos que se afogavam em água.

-Não é quem! –Disse ela indiferente. –É mais de uma pessoa. Na verdade são várias!

-Então porque você não diz para eles que não gosta desses nomes? –Perguntei sem saber por que todo esse drama.

-Não sou eu que imponho as regras. –Disse ela. –São eles. E se eu reclamasse, bateriam mais e mais em mim. E eu já apanho o bastante.

-Denuncie essas pessoas! –Falei. –Você não deve aturar esse tipo de coisa. Você é só uma criança! Inocente, que não merece apanhar.

-“Inocente” - Repetiu ela sarcasticamente. –Você não sabe nadada minha vida para dizer que sou inocente. A última coisa que eu sou é inocente.

-Está bem! –Falei. –Se é você que diz...

Então, um carro passou pela rua. Parou e um homem musculoso e forte saiu do carro e gritou:

-Venha! Quero começar logo com isso! Pra quê eu te pago?

-Já vou!

–Disse ela. –Adeus, garoto, seja lá qual for seu nome. Gostei de te conhecer! –Ela se mexeu e encostou seus lábios nos meus, e então, nossas línguas entraram em uma sincronia!

-Venha logo! –Disse o homem.

-Adeus! –Disse ela, enquanto saía correndo.

-Adeus. –Falei sem entender o que havia acontecido.

Quando ela chegou ao homem, ele deu um aperto em suas nádegas, como se isso fosse muito normal, e mandou-a entrar no carro. Um homem daquela idade fazendo isso com uma menina de 13 anos? Onde este mundo vai parar? Mas uma coisa que eu ainda não entendi: porque ela estava fazendo isso? Foi então que eu entendi tudo. Os supostos “favores” retribuídos por ela, era nada mais nada menos que... Eu não podia acreditar. Voltei ao meu quarto e deitei na minha cama, e então, voltei a dormir.







Imagem meramente ilustrativa